Das proibições

05:15

Farto-me de ouvir pessoal (especialmente pessoal solteiro, importante salientar) a apregoar que numa relação não há cá impedimentos, nem proibições, nem "não posso fazer tal coisa". Isso fica tudo muito bonito na teoria, aquela coisa do "ah e tal, somos tão liberais", mas a verdade é que na prática não funciona nada assim. E eu, pessoa que não é solteira e efectivamente sabe do que fala por uma questão de experiência própria, acho muito bem que assim seja e que existam regras.

E atenção, quando falo em regras não estou a falar em controlo total e absoluto. Nem tão pouco de controlo na sua forma mais pequena. Estou a falar apenas de respeito e de cedências, que é uma coisa que deve existir para que reine a harmonia. Para vos dar um exemplo, conto-vos que antigamente (quando começámos a namorar) o Gui tinha a mania de convidar as pessoas para jantar, assim por dá-cá-aquela-palha. Via algum amigo, pimba, lá vinha o convite para jantar. Ia lá alguém entregar-lhe qualquer coisa, pimba, convite para jantar. Over and over again, do nada, constantemente, fora as vezes em que convidava mais que uma pessoa de uma vez.

Ora, a mim não me chateia nada que ele convide um amigo para jantar, nem mesmo que convide mais que um. Quem cozinha para dois, cozinha para três e não é por aí que o gato vai às filhoses. A questão é que ele fazia isto mesmo em cima da hora e sem me avisar. Conclusão, muitas vezes eu já tinha feito o jantar à conta para nós, outras vezes não tinha comida suficiente porque só estava a contar ir ao supermercado no dia seguinte (e a que tinha dava para nós mas, obviamente, dois não são três e no fim de contas acabávamos todos por ficar com fome), e por aí adiante.

Como é óbvio, chegou a um ponto em que tive que lhe dizer qualquer coisa, especialmente porque, se isto não acontecia todos os dias, acontecia quase todos, e ao fim de um tempo haviam determinados amigos dele que também já se faziam ao bife como quem não quer a coisa. Assim sendo, um dia virei-me para o Gui e disse-lhe que, a partir dali, ele tinha que começar a conter-se nos convites e, sempre que tencionasse convidar alguém para jantar ou almoçar connosco, devia avisar-me primeiro ou perguntar-me se havia algum problema (sim, porque uma vez lembrou-se de convidar três amigos daqueles muito festeiros - e que arrotam à mesa - para jantar precisamente na noite anterior a um exame meu, pelo que podem adivinhar a minha disposição ao jantar e a vontade que tinha de me rir para ele - que era nenhuma e que, efectivamente, foi o que aconteceu).
Quando lhe expliquei o porquê do meu pedido (ou exigência lógica e legítima, como lhe quiserem chamar), ele percebeu, disse-me que não tinha pensado nisso, pediu desculpa e, a partir daí, nunca mais convidou fosse quem fosse sem me perguntar primeiro se eu estava com disposição para receber alguém para uma jantarada, se me importava de fazer o jantar para mais um e se havia comida suficiente.

Isto (que não foi, de todo, um meio de me queixar do Gui, já que vocês sabem que eu gosto imenso dele e tenho a sorte de ele compreender sempre estas coisas - mas pronto, é despassarado) trata-se de um claro exemplo de que a história do "eu faço o que eu quero, porque não é por estar numa relação que tenho que deixar de fazer alguma coisa" não deve ser propriamente regra. Se assim fosse, eu e o Gui já nos tínhamos chateado bastante, tanto eu com ele como ele comigo (porque, como devem calcular, ele também não fica sempre satisfeito com tudo o que eu faço e, portanto, também tive que eliminar ou adaptar alguns hábitos). E, sinceramente, não me custa rigorosamente nada aceder aos pedidos dele, se vir neles lógica e sentido, e o final da história é sempre feliz.

Bem melhor que andar a apregoar que sou muito liberal e só faço o que quero, mas depois acabar sozinha por me ter andado a armar em rebelde e bué da má.


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9 comentários

  1. Eu, quanto pessoa solteira, concordo contigo. E devo dizer que me mete um pouco confusão as pessoas pensarem assim se na realidade nunca dá muito bom resultado. Os extremos são sempre perigosos e nunca ouvi dizer que o compromisso (racional e lógico, não é fazer compromisso só porque sim e por tudo e nada, tem de haver limites no que se faz e no que não se faz) é mau. Mas esta é a minha opinião.
    Eu sou a favor do equilibrio. Seja este numa relação, na nossa vida profissional, pessoal, na nossa mente.
    Tal como tu exemplificaste, por vezes é necessário ceder. Porque o que as pessoas (solteiro, na sua maioria) muitas vezes não percebem, é que numa relação existem duas pessoas. Por vezes temos de pensar nas consequências que existem para a outra pessoa.
    Contudo, tal como disse, é apenas a minha opinião.

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    1. É precisamente isso. Se existem duas pessoas, existem duas formas de pensar, duas formas de estar, dois pensamentos, duas opiniões, e tudo passa a ser em dobro. Sem cedências, dá asneira.

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    2. Exatamente.
      Se querem fazer o que quiserem se que haja outra pessoa a chatear o juizo, então estão a seguir o caminho errado ao entrarem numa relação. Isolem-se e não tenham ninguém. Assim podem fazer o que quiserem sem problemas e complicações. É tudo muito bonito e tal, mas depois (tal como disseste) dá asneira.
      E sinceramente... Se eu fizesse o que quero a toda a hora duvido que existisse alguém capaz de me por os olhos à já uns bons anos. Mas hey... Graças a Deus tenho a decência de pensar nos outros que dependem de alguma forma de mim.
      Tanto em relações amorosas como em qualquer tipo de relação, a teoria é sempre a mesma e a realidade é sempre diferente.

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    3. Vês como tu sabes? =P Sempre te tive por uma pessoa inteligente! =P

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    4. WOW Obrigada! E eu que pensava ser a única a achar que eu era/sou inteligente.
      Eu às vezes digo coisas inteligente. O resto das vezes é coisas inteligentes mas complexa e raciocínios que apenas eu compreendo. Eu sei coisas que nem sabia que sabia, o que é curioso.
      Mas obrigada pelo elogio, Joana. :P

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  2. Tem que haver uma grande diferença de comportamento entre solteiros e comprometidos, enquanto um solteiro tem um pouco mais liberdade para decidir o que faz sozinho, claro que há limites para tudo, comprometidos têm que se adaptar os comportamentos ao companheiro/a para as coisas resultarem. :)

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  3. Olá linda eu concordo plenamente com o que disseste, a questão é a seguite quando se gosta de uma pessoa compreende-se, respeita-se de um lado ou do outro assim resulta mas desde que teja dentro do respeito namorar não é sinal de deixar de viver .... certo? apenas partilhamos a vida com outra pessoa e vice versa temos que nos adaptar a um ambiente diferente do que era ser solteiro, mas a pessoa com que tamos e nossa companhia á sempre tempo para tudo, para amigos para namorar para fazer coisas em conjunto desde que aja compreensão respeito entendimento. Os solteiros que dizem isso, vão ser iguais quando encontrarem a pessoa certa caso comtrário terminam sozinhos .

    beijinho grande

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    1. Sim, isso é verdade :) O facto de namorarmos não faz com que tenhamos que nos anular. Eu nunca fui muito de Playstation, por exemplo, mas o Gui é e joga imenso. Eu respeito e por mim é na boa, apenas tivemos que ajustar esses horários por forma a não prejudicar nada. Mas isso não fez com que ele tivesse que deixar de jogar. É uma questão de adaptações, e não de proibições :)
      Beijinho!

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