Quão cliché seria se eu estivesse no comboio e entrasse uma tiazona daquelas que não são propriamente louraças mas gostam de ser?

E quão cliché seria se essa mesma tia estivesse a usar um casaco a imitar pele? Melhor, e se tivesse umas botas pretas de cano alto até ao joelho?

Então e se essa mesma tia tivesse o cabelo perfeitamente liso em cima e enrolado nas pontas, e mascasse efusivamente uma pastilha elástica?

E se trouxesse uma mala com padrão tigresse? E outra mala com um cãozito lá dentro?

Melhor! Então e se a mala do cão fosse cor de rosa berrante? E se o cão fosse um caniche? E se tivesse um carrapito também cor de rosa berrante na cabeça?

E se essa mesma tia passasse a viagem inteira a lamber-se toda com o bicho, enquanto dizia "Quem é o bebé da dona?", e ao mesmo tempo fizesse olhinhos ao revisor?

Não seria extremamente cliché se, no meio de tudo isto, ela ainda tivesse dois telemóveis, ambos cor de rosa, em que um servia para falar em português com sotaque de cascais, e outro para falar francês, e ainda por cima fosse divorciada?

...nem vocês sabem o quanto a minha vida é um cliché, meus caros.