As "bodas" de algodão | Joana

06:32



...que começou o primeiro dos melhores dias da minha vida.
Eu ainda não sabia, naquela noite do dia 21, que tudo estava prestes a mudar. Mas estava, e de que maneira! Aquela data estava marcada há muito como o suposto fim do mundo de 21 de Dezembro de 2012. Eu, que já sobrevivera a tantas profecias apocalípticas, achei (e muito bem) que era apenas mais uma, daí que não estivesse muito preocupada.
Há algum tempo que a minha vida se baseava em estudar, estar com os meus amigos e fazer noitadas. Descobrira há pouco tempo o sabor doce de passar fins de semana em Coimbra (coisa que nunca havia feito até então) mas, por algum motivo, naquela noite de sexta feira estava em casa dos meus pais. Normalmente, como já referi, aproveitava todas as noites livres para sair, mas naquele momento estava a sentir-me um bocadinho caseira e, por isso, decidi ficar por casa. Podia escrever no blog, ou ler qualquer coisa, ou ver uma série...não tinha grandes planos. Apenas sabia que queria ficar em casa, por isso recusei os vários convites que me fizeram para sair. Mais que uma pessoa insistiu e eu disse sempre que não, que ia ficar em casa naquela noite. Cheguei até a inventar que não tinha transporte, que estava doente...queria ficar em casa, pronto!
No entanto, já relativamente tarde (pelo menos mais tarde que a minha hora normal de sair), comecei a mudar de ideias. Não sei porquê, ou talvez no fundo saiba, mas alguma coisa me fez ponderar a ideia de ir dar uma volta. Não me interessava com quem, nem como. Só sabia que tinha que ir.

Na altura, estava a falar por mensagens com uma rapariga da minha zona que me conhecia apenas pelo Facebook. Já nos tínhamos visto algumas vezes, mas nunca havíamos trocado uma palavra pessoalmente. Conhecemo-nos "formalmente" naquela rede social (já não me recordo como nem porquê), e de vez em quando conversávamos. Por alguma razão que até hoje desconheço (dado que nunca acontecera antes e não voltou a acontecer depois), essa rapariga perguntou-me se ia sair. Desta vez não disse que não. "Estava a pensar nisso, mas ainda tenho que ver se o meu pai me pode ir levar", disse eu (a zona dos bares fica a 3 km da casa dos meus pais e, embora exista quem faça essa distância a pé para ir sair e depois voltar para casa de madrugada, eu nunca fui muito de aventuras). Ela respondeu que ia sair com um amigo que levava o carro e que não se importava de passar em minha casa com ela para me ir buscar. Não me perguntem porquê, mas esta atitude arriscada para alguém que não conhece pessoalmente as pessoas com quem se vai enfiar num carro durante a noite pareceu-me muito lógica na altura (por acaso eram boas pessoas, senão não estava aqui a contar a história - ou estava, mas o meu pai estava mais pobre por causa do resgate).

Ora bem, fui vestir um top preto com lantejoulas nas alças (apesar de soar piroso, eu juro que era giro), combinei com as minhas calças de ganga justas, um casaco preto tipo blazer, e o que tinha calçado já não me lembro, para ser muito sincera (mas provavelmente ia com os meus saltos cinzentos). Esperei até que a rapariga me dissesse que estava a chegar ao local onde lhe pedi que me fosse buscar, e quando recebi a mensagem peguei na mala e fui lá ter com ela. Curiosamente, acabei por descobrir ao fim de dez minutos de conversa que conhecia o rapaz metaleiro que ia a conduzir, de um concurso de bandas em que ambos participámos. Ele lembrava-se de me ter ouvido cantar e eu acabei por me lembrar dele também, dado que a banda dele era muito diferente das que já tinha visto em pessoal da minha idade (diferente no bom sentido). A viagem correu muito bem e lá chegámos todos sãos e salvos ao nosso destino.
Quando saímos do carro, também por coincidência, encontrámos uma outra amiga minha que mora na Suíça e que tinha acabado de chegar para as férias de Natal. Fizemos uma grande festa quando nos vimos, ela convidou-me para tomar café com ela e o tio antes de irmos para os bares, e estendeu o convite aos meus dois acompanhantes daquela noite. A rapariga ficou connosco, mas o rapaz tinha coisas combinadas com os amigos e despediu-se cordialmente.
Ficámos as três na conversa todas animadas, até para aí à uma da manhã, mas já não bebíamos só café. A tal minha amiga vive de forma, digamos, mais abastada lá na Suíça, e o que para nós são 10€ preciosos, para ela equivalem para aí a 2,50€. Assim sendo, não foi de admirar (embora eu tenha ficado algo surpreendida) que ela tenha gentilmente cedido o seu dinheiro para comprar umas garrafitas de vodka de morango para a malta. Conclusão, quando saímos do café já íamos todas contentes. A juntar à festa, fiz uma coisa que pensei que nunca faria na vida: tornei-me numa daquelas pessoas irritantes que passam por nós de carro com kizomba a altos berros por terem um sistema de som filho-da-mãe no carro, enquanto põem a cabeça para fora da janela e gritam "Woo hoo!!". Eu sei, shame on me, mas feta é feta! O carro do tio da minha amiga era uma bombalhaça e ele fez questão de nos mostrar a máquina, pelo que fomos as três lá dentro todas contentes, com os tímpanos quase a rebentar pela altura da música, mas nevermind, I'll find some tímpanos like you.

Quando acabámos com a azeitolada, decidimos enfiar-nos no bar do costume e a minha amiga fez novamente a gentileza de mandar vir garrafas de vodka de morango para o pessoal. É sempre simpático quando alguém faz isto por nós e nem sequer nos pede boleia no fim (também não adiantava, porque eu própria estava à boleia). A noite estava muito agradável, tirando duas ou três conversas que me estavam a irritar, mas ficou ainda melhor quando recebi uma mensagem dele. Do meu Gui, que na altura ainda não era meu, mas que no fundo sempre foi (Qual é coisa qual é ela que já o era antes de o ser? Resposta: Era o Gui). Perguntou-me se estava tudo bem, se ia sair, disse que gostava de me ver, e eu não me fiz de rogada e disse-lhe onde estava. "Vem para cá já", foi mais ou menos a minha resposta (não esquecer que já andava na vodka de morango há algum tempo). Ele, sempre simpático, disse que estava a chegar e já me dizia qualquer coisa. Esperei para aí vinte minutos, mas quando estamos ansiosos isso parece-nos para aí uma hora e meia, e foi efectivamente o que me pareceu. Enchi-o de mensagens a perguntar "Então?", "Então?", "Então?", e ele sempre a dizer que já vinha, até que me disse o sítio exacto onde estava e eu, em vez de esperar em segurança que ele viesse ter comigo, decidi ir sozinha lá para fora à procura dele (vodka, everyone). Liguei-lhe algumas três vezes, e quando ele percebeu que eu estava sozinha e impaciente, lá se despachou e veio ter comigo.

Podia dizer que quando vi o Guilherme nesse momento o tempo parou, apareceram fadas, houve fogo de artifício e viram-se estrelas cadentes. Mas não. O meu eu embriagado decidiu, naquele momento, impersonar (eu sei que esta palavra não existe, mas vai fazer sentido para vocês) a namorada chata que, de alguma maneira, eu me esqueci que ainda não era. Assim que ele sorriu para mim e veio ter comigo para me cumprimentar, eu espetei o indicador para cima, pus a outra mão na cintura, levantei a minha sobrancelha esquerda e perguntei se ele estava a gozar comigo. Ele, claro, ficou confuso com a pergunta. "Deves pensar que eu sou parva! Eu sei bem que estavas com outra!", ralhei eu (à frente dos amigos dele e tudo, note-se o quão espectacular eu sou quando estou naquelas andanças). Ele ria-se, divertido, e dizia que não, não estava com outra, sem me perguntar em momento algum porque é que eu me sentia no direito de sequer perguntar isso. Afinal éramos só amigos, só que não. No fundo foi a nossa primeira discussão de namorados, só por dizer que não éramos namorados. Ainda.
Ao fim de um tempo a ouvi-lo dizer que não estava com ninguém e de lhe responder que sabia bem que estava, ele cansou-se e levou-me para dentro do bar. Onde decidiu ignorar-me, coisa que me irritou ainda mais, por isso fui outra vez beber vodka de morango com as minhas amigas na esperança de ele se arrepender e vir ter comigo. Ele ia olhando e rindo, mas não mexeu uma perna para me vir chamar. Enervante. Lá tive eu que usar o meu toque de subtileza e, como alcoólica discreta que sou, achei por bem apalpar-lhe o rabo no meio do bar. Porque toda a gente sabe que é uma excelente forma de iniciar uma conversa.

A minha sorte é que ele já andava de olho em mim, senão provavelmente ia de vela logo nessa noite. Ah, e obviamente que ele notou que eu e o Jorge Palma levávamos mais ou menos o mesmo estilo de vida naquele instante, então pegou leve. Eu ainda insisti umas vinte vezes para que fossemos falar porque tinha que lhe dizer uma coisa muito importante, mas ele usava a insistência dele para dizer que só íamos falar no final da noite. Eu fazia birra como uma menina de seis anos, e ele só se ria e tornava a levar-me para dentro. Esperei a noite toda, entre danças, olhares, risos, e ele lá decidiu que estava na altura de termos a nossa conversa. O problema foi que nesse momento não estávamos no mesmo bar, mas a minha escassa bateria no telemóvel ainda me permitiu dizer-lhe que me encontraria com ele dali a cinco minutos em frente à biblioteca. Dito isto, o meu telemóvel faleceu e fiquei incomunicável, mas julguei que ele tinha percebido o que lhe disse e lá fui eu para a biblioteca.

Cheguei e nada de Gui. Esperei e nada de Gui. Pensei que, ou ele tinha demorado nos bares (coisa improvável, dado que estavam a fechar), ou tinha-se perdido (estranho, na terra dele). Ao fim de um tempo lá o vi chegar estafadinho da vida, vindo do sentido contrário ao que lhe disse. Percebeu que eu lhe tinha dito para ir ter ao cinema, em vez da biblioteca. Mas somehow, encontrou-me na mesma e lá fomos ter a nossa conversa.
Bom, não é preciso dizer o que aconteceu porque o facto de estar aqui a escrever isto já deixa antever o final. Quando voltámos para ir embora, já fizemos o caminho juntos e de mãos dadas. E, felizmente, desde há dois anos que estamos juntos, coladinhos um ao outro, a dormir em conchinha todas as noites. Foram dois anos bonitos, nem sempre fáceis, mas maravilhosos. Cada etapa, boa ou má, é passada como tudo começou: de mãos dadas. Ele é a melhor parte da minha vida e desde essa madrugada de 22 de Dezembro que o que sempre sonhei ter se tornou real. O meu melhor amigo, o meu grande amor, a melhor pessoa que conheci até hoje.
A data que para os Maias seria o fim do mundo, foi para mim o grande início.

A mais mil anos contigo. Tchim-tchim.


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20 comentários

  1. que lindo! adorei <3 que nada mude , felicidades

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  2. Bem, que noite! Ahaha
    Mas terminou da melhor maneira :b muitas felicidades para os dois

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  3. Que noite divertida que foi :p
    E é uma história de recordar :D

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  4. Great post ! Would You like to follow each other?
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  5. Adorei ler a vossa história, estavam mesmo destinados :) Muitas felicidades para os dois.
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  6. Esse amor sempre existiu :)
    Já nasceste a amor o Gui :)

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  7. Ooooh que queridos!
    Parti-me a rir com a maneira como descreveste todo o episódio, muito bom xD

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  8. Que lindo *-*

    *Beijinhos*
    Caty<3
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  9. Joana, que linda história de amor!! Felicidades ao casal sempre!!

    Beijos,
    Sheyla
    http://blogdmulheres.blogspot.com.br/

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  10. Felicidades !
    R: eu so nao sofro desse mal , pq ou encomendo ou então trazem-me de um dos meus restaurantes , so faço doces e cozinho ao fim-de-semana , as vezes xD

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  11. aahahah muito gira a vossa história! Parabéns e que tenham um mundo de coisas boas :D

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  12. Vocês são lindos essa é que é essa :p achei lindo o texto, a história e acima de tudo ainda me ri com as tuas ironias eheh

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  13. as vezes o vodka é fantástico para desbloquear conversas, parti-me a rir com algumas partes desse inicio de uma bonita história de amor. Muitas felicidades que venham mais anos :)

    http://ummarderecordacoes.blogs.sapo.pt/

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  14. És muito engraçada quando estás embriagada xD Tenho que admitir que também ri a ler algumas partes. Foi o início de uma linda história, felicidades aos dois!

    MORNING DREAMS

    Sofia Silva, Beijos*

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  15. Nesse dia, andava no cais de sodré, também em bares a festejar o fim do mundo! :p que venham mais!
    beijinhos

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