A arte de não falar demais

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Se forem como eu, de certeza que gostam de partilhar com o mundo o quão felizes estão. Na verdade, eu sempre fui um bocadinho pior que isso. Facilmente me afeiçoava às pessoas, inclusivamente àquelas que conhecia há apenas uns dias ou umas semanas, e se a princípio gostasse delas já as considerava minhas amigas. O problema é que nem toda a gente mereceu esse título, e à pala da confiança que só existia na minha cabeça, fui dando detalhes da minha vida que deram azo a especulações, boatos, falatórios e algumas cenas maldosas.
Lembro-me por exemplo de, há uns anos, estar muito em baixo por causa de um rapaz de quem gostava e ter feito um desabafo ao telefone com uma suposta amiga minha. No minuto a seguir, vem uma rapariga ter comigo para me contar que a tal "amiga" lhe ligou mal desligou a minha chamada para lhe contar o que eu lhe confidenciara e, pior, gozou com a situação e com o facto de eu estar triste. Na altura, não sei se foi pior a humilhação de ver um desabafo meu espalhado por todo o lado, ou a tristeza de, a juntar ao motivo inicial de eu estar mal, ainda ter que lidar com a traição de alguém por quem tinha consideração e que, claramente, não a merecia.

Por diversas vezes me deparei com situações do género e, devido a isso, passei a moderar a minha maneira de ser no que toca a esse aspecto. Cada vez mais, fui conhecendo pessoas atrás de pessoas que não conseguiam guardar um segredo ou ouvir um desabafo sem fazerem julgamentos ou comentar isso com toda a gente. Depois ainda havia aquele tipo de gente que, sem ter nada a ver com isso, me pedia justificações ou ficava muito chateada por eu pensar ou agir de tal maneira, como se eu lhes devesse alguma coisa. Foi por essas e por outras que passei a dar-me mesmo apenas com um número restrito de pessoas. Agora sei separar os amigos dos conhecidos e sei com quem posso contar. Sei identificar aqueles que de um "hoje discuti com o Gui por causa da cor dos cortinados" vão espalhar um "a Joana e o Gui estão para se separar", daqueles que de um "eu e o Gui não estamos bem" vão dizer "eu sei que vocês resolvem isso" e guardam o segredo com o maior dos carinhos. Tipo uma vez em que me perguntaram se eu e o Gui queríamos ir a uma discoteca, eu respondi que ele não gosta muito de discotecas, e o que a pessoa foi espalhar foi "a Joana está farta do Gui e está para acabar com ele porque ele não larga a Playstation" (eu sei, não me perguntem, que eu também não entendo a relação).

(Nota: eu e o Gui estamos óptimos, foi só um exemplo. E ambos gostamos das cortinas.)

Mesmo aqui no blog, tento ao máximo não me expor demasiado, porque muitas das visitas são de seguidores e leitores, mas grande parte delas é feita por pessoas que me conhecem pessoalmente, que têm isto ou aquilo contra mim e/ou contra o Gui, e que vêm aqui coscuvilhar para depois criar boatos, mentiras e instigar confusões. Vocês devem saber do que falo, porque de certeza que vos acontece o mesmo, se não estiverem no anonimato. Aliás, até vos podia dar aqui uma lista de nomes (porque a verdade é que isso sabe-se de uma maneira ou de outra!). Mas enfim, isso são histórias para outros Carnavais e, muito honestamente, só é triste para os atrasados mentais que fazem isso e se comportam como miúdinhas de 12 anos. E que depois dizem "O quê, eu?! Eu nem vejo o teu blog!". 'Tá bem, a gente finge que é verdade.

Há pessoas que estão na minha vida (algumas são-me "impostas" por certas circunstâncias e ocasiões) que gostam muito de saber tudo o que faço, digo ou penso, e fazem sempre parecer que é por pura amizade e afeição. No entanto, são essas mesmas pessoas que me falam mal de supostos melhores amigos e que criticam os passos de toda a gente como se tivessem alguma coisa a ver com isso. É por esse motivo que, mesmo quando utilizam toda a lata que têm para fazer perguntas directas e sem floreados, opto eu por florear a coisa e responder com um Nim muito subjectivo.
E sabem que mais? Tenho-me dado muito bem com isso.


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14 comentários

  1. Este post podia ter sido escrito por mim. Entre nós (eu e tu), a maior diferença é o anonimato. Não mostro quem sou e evito ao máximo ter algo que me ligue com a minha pessoa. Porém, se alguma vez alguém conhecido entrar no meu blogue e me conhecer minimamente bem acho que vai perceber que sou eu. Algo que me deixa, talvez, um bocado descansada, é que falo com poucas pessoas e o que conto na blogosfera, raramente partilho com alguém. Tal como tu, aprendi a moderar o que posso ou não contar às pessoas e eu moderei demasiado. Não conto quase nada. Mas compreendo o facto de tu também te moderares. Acho que é normal. As pessoas só estão bem a dizer mal das outras e nem todas as que parecem ser nossas amigas, são.

    E, quanto a ti e ao Gui, vejam lá se as cortinas são de uma cor que atrai coisas negativas ;D ahaha*

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  2. Como se costuma dizer: nas costas dos outros eu vejo as minhas. Eu também já fui como tu, confiava nas pessoas porque achava que todas eram boas e tinham um bom coração. Dei-me muito mal com isso e aprendi da pior maneira. Hoje posso dizer que as pessoas em quem confio para falar abertamente contam-se pelos dedos de uma única mão e ainda sobram dedos.

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    1. r: não se percebe porque agem assim! Seria tudo muito mais fácil se simplesmente aceitassem a felicidade do amigo não? É ridículo que tenham essas atitudes!

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  3. É por estas e por outras que eu sou um tipo reservado no inicio das relaçoes de amizade, simplesmente não consigo mostrar como sou nos primeiros tempos. Desta forma sei que as pessoas que ficam, provavelmente são de confiança se bem que mesmo assim ja me queimei...
    E claro, há assuntos que simplesmente não consigo falar com qualquer pessoa, por muito que seja a confiança que tenho com a dita pessoa.
    Não posso deixar de concordar quando dizes que há pessoas que não merecem o nosso tempo.

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  4. r: tens toda a razão. passado muito tempo as pessoas continuam a criar identidades falsas, mas acredito que nao seja pela mesma razão :/

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  5. Identifiquei-me imenso com o que tu escreves, já tive situações parecidas. Por isso é que agora é muito mais complicado eu desabafar com os outros...

    http://ummarderecordacoes.blogs.sapo.pt/

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  6. Com isto recordas-me de uma frase cliché, mas que recentemente ganhou novo sentido na minha vida: nunca se deve perder uma boa oportunidade de estar calado.

    Mas estas experiências acabam por ser boas, levam-nos a reflectir sobre o que merece o nosso tempo e preocupação, tal como dizes... e isso só pode conduzir a uma vida mais alegre :)

    Beijinhos!

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  7. Identifiquei me bastante com aquilo que escreveste mas de modo contrário, tive alguns problemas na escola com isso.
    Por isso é que passei a ser mais reserva em certas coisas na minha vida mas apesar do problema que me causaram continuei a sorrir ao mundo isso não me tiraram.
    beijinhos
    http://retromaggie.blogspot.pt/

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  8. r: eu gostei muito :) não me dói nada mesmo e aqui é super barato 5£!

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  9. Oh, oh, sofria-se do mesmo por aqui!
    Mas, curiosamente, nunca ouvi grandes boatos sobre mim. Acho que os meus "inimigos" são demasiado cool para lerem o meu blogue. Meh. Gostava de ser mosca e ouvir se e o que falam de mim/da minha relação. :p

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  10. Percebo tão bem! Mas, no final, dá ainda mais gozo mostrar a essas pessoas que estamos melhor que nunca com a pessoa que temos ao nosso lado! :b

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