Porquê?

Bom, é que antes de eu e o Gui nos mudarmos para o nº 13, morava lá uma senhora que era costureira. Por isso mesmo, não são poucas as vezes que toca a campainha e do outro lado está uma pessoa furiosa porque ficou sem as suas roupas.

Logo numa das primeiras semanas, por exemplo, estava eu na ronha com o Gui a ver uma série qualquer, e toca a campainha (ah, importante salientar que o toque daquela campainha parece a sirene dos bombeiros, pelo que falecer de susto à pala daquilo não é uma hipótese impossível). O jeitoso levantou-se e a conversa foi a seguinte (eu sei, porque para além do toque estridente, também é possível ouvir o que a outra pessoa está a dizer lá em baixo pelo altifalante):

Gui - Sim?

Senhora Enervadíssima - Eu tenho aí umas calças!

Gui - Desculpe?

Senhora Enervadíssima - Eu tenho aí umas calças na costureira!

Gui - Mas isto não é a casa da costureira...

Senhora Enervadíssima - Mas eu tenho aí umas calças e tenho que as levar para Cabo Verde!

Gui - Oh minha senhora, mas eu estou a dizer-lhe que aqui não há nenhuma costureira, ela já não mora cá.

Senhora Enervadíssima - Não mora?? Então está bem, desculpe!

Gui - Não há problema, com licença.

5 segundos depois, toca a campainha outra vez.

Gui - Sim?

Senhora Enervadíssima - Ouça, eu tenho aí as minhas calças!

Gui - Oh senhora, eu já lhe disse que não há aqui costureira nenhuma!

Senhora Enervadíssima - Não??

Gui - Não, ela morava cá mas já não mora.

Senhora Enervadíssima - Então e agora?!

Gui - E agora? Não sei, senhora, o que quer que lhe faça?

Senhora Enervadíssima - Agora como é que eu faço, diga-me lá! É que eu vou para Cabo Verde e tenho aí as minhas calças!

Gui - Pois, eu compreendo! Mas já lhe disse que não mora cá costureira nenhuma e que não a posso ajudar nem fazer nada por si, não sei o que quer que lhe diga!

Senhora Enervadíssima - Pronto! Está bem!

Dias depois, a um nível mais recente, estávamos nós a dormir enroscaditos, quando acordamos sobressaltados pelo toque estridente da campainha. Eu, meio ensonada e pensando que eram os senhores que iam entregar a máquina de lavar roupa, levantei-me e fui atender.

Eu - Sim?

Outra Senhora Enervadíssima - Abra aqui a porta!

Eu - Ah sim, com certeza! ...Espere! Quem é?

Outra Senhora Enervadíssima - Oh costureira!

Eu - Olhe, a costureira já não mora aqui.

Outra Senhora Enervadíssima - Então mas não é a costureira?

Eu - Não, não, ela morava cá mas já se mudou, agora estou cá eu.

Outra Senhora Enervadíssima - Mas eu quero ir à costureira, não pode abrir a porta?

Eu - Ouça, a costureira não mora cá. Não vale a pena eu lhe abrir a porta porque não encontra cá costureira nenhuma, tem que ir ver ao atelier dela.

Outra Senhora Enervadíssima - Pronto, bom dia então.

Isto para vos dizer que já me arrependi de mostrar o que fiz à camisola. É que, sem fazer nada relacionado com roupa, já me vêm parar estas asnas à porta, imaginem se ficam a saber que corto tecidos!