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Quem nunca. Quem nunca se auto-mutilou com estes comentários na própria cabeça.
A minha saia é demasiado curta para uma menina.
Tenho que me sentar direita, como uma senhora.
Não posso dizer palavrões, sou uma menina.
E o clássico: Agora que tenho este namorado, tem que ser o único para o resto da minha vida.
Nós, mulheres, temos esta tendência natural para o romance. Está-nos na alma, no adn, somos fofinhas por natureza. Mesmo as mais frias, nalgum momento, vão viver a história do conto de fadas na cabeça delas. E é natural que o vivamos, porque é isso que consumimos desde cedo, nos desenhos animados que vemos, nas histórias que lemos, nos filmes a que assistimos. Tudo, até os conselhos que nos dão, está formatado para esta busca insana do príncipe encantado, do amor para a vida, do "tal". Parece que toda a nossa existência tem que girar em torno de uma só coisa: homens.
Injectam-nos com esta agulha invisível de informação tóxica que diz que para sermos mulheres como deve ser (e o que é isso?) devemos crescer recatadas, sem namorados nem derivados, porque caso contrário somos mal vistas. E, quando atingimos uma idade adequada, devemos ter um namorado, de preferência só aquele, de longa data, que mais tarde vire marido e pai dos nossos filhos.
Mito urbano nº 1: Tudo é acerca dos homens.
NÃO. Ninguém tem que me ensinar a procurar um homem, a querer um homem, a só ser feliz com um homem, a preferir um homem, porque eu posso pura e simplesmente gostar de mulheres. Posso ter 6 anos e estar apaixonada pela menina ruiva da minha sala de aula. Posso ter 16 e ter um crush pela minha vizinha de cima. Posso ter 31 e namorar com a minha colega de trabalho. Posso ter 53 e estar casada com a minha melhor amiga. Eu posso o que eu quiser.
Mito urbano nº 2: O amor tudo aceita, tudo perdoa, tudo carrega, porque o amor supera tudo.
NÃO. O amor não supera coisíssima nenhuma por si só. O amor é um sentimento que, como uma flor, como um jardim, deve ser regado. Se ele me bate, não é porque o amo que tenho que ficar com ele. Se ele me trai, não é porque o amo que tenho que o perdoar. Se ele me trata mal, me faz infeliz, me despreza, o amor por si só não me aguenta junto a ele. O amor não carrega tudo, não perdoa tudo, não aceita tudo e, mais importante que tudo, nem sequer o deve fazer. Não é saudável. Não é bom em parte nenhuma do mundo, e infelizmente somos bombardeadas com esta ideia romantizada dos abusos, como se no fim de contas tudo o que importasse fosse ter aquele macho maravilhoso ao nosso lado. Aquele que anda metido com a colega de trabalho. Aquele que nos despreza em casa. Aquele que não nos deixa sair sem ele. Aquele que nos agride. Não, amigas. Não.
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Mito urbano nº 3: "Para seres uma menina do bem..."
Para seres uma menina do bem tens que ser boa pessoa. Ponto final. Uma "menina do bem" não é definida pelo que veste, pela forma como fala, pela postura com que se senta, pelos amigos que tem, pelo número de relações que tem, por nada dessas porcarias.
Quantas coisas já deixaste de fazer por seres mulher? Exceptuando as questões de segurança, já deixei de estar sentada de determinada maneira porque me ensinaram que quando um amigo do meu irmão, ou o meu namorado da altura entravam em casa, eu tinha que me sentar direitinha. Não podia estar de pernas esticadas no sofá, ou para cima da mesa, tinha que estar direita e sossegada, ao ponto de chegar mesmo a ficar desconfortável. E as pessoas não nos ensinam isto por mal, mas efectivamente passam-nos estas ideias erradas do que é ser uma mulher, uma menina bem comportada, uma rapariga como deve ser. As próprias expressões são completamente erradas.
Mito urbano nº 4: Um ou dois namorados chegam bem...
NÃO! Tu podes ter a quantidade de namorados que quiseres ter! Podes ter a quantidade de namoradas que quiseres ter, também! Isso não te define, não te torna menos que ninguém. Esta ideia tão estúpida que repetimos para nós mesmas over and over again é grande parte do motivo de ficarmos muitas vezes atreladas a relações tóxicas, violentas, agressivas, que nos fazem tudo menos bem.
Porque fica mal uma menina saltar de poleiro em poleiro. Amiga! Salta! Enquanto não encontrares o teu ninho, salta! Só não fiques presa onde não te sentes bem. Não fiques amarrada a cordas que te magoam, que te sufocam, que te fazem sentir miserável todos os dias.
Já passei por uma situação em que pensava várias vezes para mim mesma que o bullying que os outros sofriam na escola, eu sofria dentro de casa. Não na minha casa, com os meus pais, mas na "casa" que era a relação que eu tinha. O meu bully estava ali, a dormir ao meu lado. A pessoa que me punha para baixo, que me tirava a auto estima, que me fazia questionar o meu valor, que me agredia psicologica e verbalmente, que me massacrava a alma e o cérebro, estava ali tão perto. Mas eu não queria largá-lo. Não queria. Inventava amor onde ele não existia, mas as justificações que dava a mim própria eram:
"Os meus pais não vão gostar se eu levar outro lá a casa"
"Fica mal andar de relação em relação, tenho que aguentar"
"Um dia ele vai mudar"
"A culpa é minha"
"Ele só teve um dia mau"
E se me perguntarem se os meus pais alguma vez me proibiram de acabar uma relação ou de começar outra, não, não proibiram. Se alguém me disse que eu devia aguentar porque ficava mal acabar e um dia namorar de novo? Não, ninguém me disse. Não naquele momento, não naquele instante.
Mas os filmes que eu vi disseram-me isso. Os livros que eu li disseram-me isso. Os desenhos animados a que assisti (!!!) disseram-me isso. A sociedade, o mundo à minha volta disse-me isso.
Porque eu sou mulher, e às mulheres estas coisas ficam mal. Não é?
Fica mal uma mulher beber cerveja.
Fica mal uma mulher voltar a casar.
Fica mal uma mulher usar saias tão curtas.
Fica mal uma mulher usar decote.
Fica mal uma mulher sentar de perna aberta.
Fica mal uma mulher dizer um palavrão.
Fica mal uma mulher falar de política.
Fica mal uma mulher sair sem o namorado.
Já ouvi estas frases tanta vez. Fica mal, fica mal, fica mal. Tudo fica mal.
E no fim de contas quem fica mal somos nós, Mulheres, infelizes e presas aos dogmas machistas que nos rodeiam 24/7.